Maledicência
Uma das mazelas que afligem o ser humano é a maledicência. Ela é poderosa, é um encontro de palavras com formato de setas e com pontas ferinas, malignas; é hedonista, serve ao prazer de quem a elabora e a dispara certeira ao alvo; é forte como o alcalóide estricnina, não mata, mas mancha a vida da vítima. Tive uma vizinha maledicente, a Dona Mirelda. Sempre mal arrumada, isto porque só se importava com a vida dos outros, então, claro que não tinha tempo para melhorar um pouco aquele cabelo horrível. Um dia pedi licença para usar o telefone dela, pois o meu estava com defeito. Quase me perdi na bagunça da sala. Sobre a mesinha estavam vários boletos de contas atrasadas. Eu já havia visto algumas pessoas estranhas baterem à sua porta, certamente eram cobradores. O último que vi demorou muito para sair, provavelmente por ter muitas contas a cobrar, mas, pelo que pude notar, foi embora satisfeito. Nunca vi casa mais fétida, cortinas com tecido puído e tapete com aparência de congresso permanente de ácaros. Também pudera, que tempo Dona Mirelda teria para organizar a casa e pagar as contas se só cuida da vida dos outros? O maledicente deveria ser condenado a trabalhos forçados
Maria Inez Flores Pedroso
Enviado por Maria Inez Flores Pedroso em 21/04/2011
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.